5 dicas de como criar uma rotina saudável de estudos para as crianças

Gaby Beraldi

Professora de Biologia formada em Ciências Biológicas (UENF), mestre em Ciências Ambientais (UFRJ) e concluinte de Pedagogia (Uniasselvi). A educação não é somente um ofício, mas uma missão de vida.Publicado em 21 de dezembro de 2020. | Atualizado em 21 de dezembro de 2020.

Atualmente, estamos vivendo uma época em que as crianças e os adolescentes permanecem muitas horas em frente às “telinhas” jogando, assistindo a filmes e séries ou nas redes sociais. Segundo uma pesquisa realizada pelo Departamento de Psiquiatria da EPM/Unifesp, com a interação social escassa devido à pandemia, o uso da tecnologia infantil aumentou significativamente.

Os resultados da pesquisa mostram que crianças de todas as idades passavam, em média, cerca de 3 horas de seus dias nas telas antes desta crise e agora permanecem por quase 6 horas. O estudo ainda afirma que, na prática, o número real pode ser ainda maior.

Contudo, quando falamos sobre estudar, infelizmente, nem sempre isso acontece diariamente, mas, para que a aprendizagem seja consolidada, é importante que o aluno estude todos os dias.

Estudar e assistir às aulas são ações diferentes. Quando o aluno está assistindo a uma aula, ele está entendendo um conteúdo. Entretanto, quando coloca em prática sozinho aquilo que entendeu (normalmente fazendo as tarefas de casa) é quando efetivamente está estudando.

Quando o estudante chega à casa após o período de aulas, existem muitos atrativos, como a TV, o celular, o videogame e, por último, ele vai se sentar para fazer a tarefa de casa e, às vezes, nem consegue fazer por inúmeros motivos.

Isso não significa dizer que a criança ou o adolescente precise estudar o dia todo, até porque não é uma ação recomendada pela neurociência. O recomendado é que se estude pouco, mas todos os dias.

Já em relação a quantas horas diárias são necessárias, isso vai depender de cada criança, o importante é não exaurir o cérebro e nem a sua motivação!

Diante dessas importantes observações, como podemos criar uma rotina saudável de estudos para nossas crianças?

1- Despertar a curiosidade

A gente passa a querer fazer algo quando sentimos motivação por aquilo, mas nem sempre essa vontade de querer surge espontaneamente.

Por isso, é importante estimular a curiosidade da criança e promover situações em que ela precise resolver algo com o conhecimento que ela tem. Se ela não conseguir, é o momento de mostrar que estudando pode-se conseguir o conhecimento para resolver tal problema.

Como fazer isso? Brincando, jogando, assistindo a um filme, uma peça de teatro; essa curiosidade muitas vezes pode ser aguçada por meio da cultura e da arte.

2- Separar um tempo para brincar

Como dizia Albert Einstein, “A imaginação é mais importante do que o conhecimento.”.

Piaget e Vygotsky, dois estudiosos que têm até hoje suas teorias embasando muitas ações na educação, já enfatizavam a importância dos jogos e brincadeiras para o desenvolvimento infantil.

Viola Spolin afirmou, em um de seus livros, que os jogos são fontes de energia que ajudam os alunos a aprimorar habilidades de concentração, resolução de problemas e interação em grupo, despertando ainda a inteligência e a criatividade. Alguns jogos simples e conhecidos que a autora sugere são, por exemplo, pular corda e queimado. Todavia, existem outras inúmeras possibilidades. Podemos utilizar jogos de tabuleiro e jogos criados pelas próprias crianças com seus objetos e imaginação.

A brincadeira fornece à criança maior capacidade imaginativa, oportunidade de interação com o outro e de autoconhecimento. Isso vai contribuir para o seu desenvolvimento cognitivo e trazer a motivação intrínseca pela descoberta do novo.

Brincar é urgente!

3- Escolher uma atividade física

Se pesquisarmos no Google sobre a relação entre atividade física e aprendizagem, é possível encontrar vários artigos científicos que relatam que a atividade física auxilia no desenvolvimento cognitivo e na manutenção da saúde do cérebro.

Um dos estudos que ficou muito famoso foi o de neurocientistas da Universidade de llinois, nos EUA, que dizia que crianças e adolescentes que praticam esportes com frequência têm desempenho 20% superior ao dos alunos que não fazem exercício nenhum.

Uma explicação para esse fato é que a produção de sinapses (comunicação) entre os neurônios aumenta quando a pessoa se exercita. Sendo assim, a atividade física tem o potencial de desenvolver células cerebrais, promovendo novas conexões entre os neurônios, fazendo com que a mente se mantenha jovem e ativa.

4- Aula dada hoje é aula estudada hoje

Segundo o professor Pierluigi Piazzi, o ciclo de aprendizagem funciona em ritmo circadiano: inicia-se e encerra-se em 24 horas. Nessas 24 horas, a pessoa precisa passar por 3 etapas:

• Entender: acontece quando a pessoa assiste à aula.
• Aprender: ocorre quando a pessoa está fazendo a tarefa de casa, por exemplo, e, nesse momento, ela transforma a informação em conhecimento.
• Fixar: acontece durante o sono. Nessa hora, ocorre a reestruturação das redes sinápticas, e o cérebro altera a quantidade de neurotransmissores, fixando tudo que foi aprendido. Contudo, existe um limite, por isso, o importante é estudar pouco, mas todos os dias.

Portanto, a aula assistida naquele dia deve ser estudada em casa no mesmo dia, antes que chegue o momento de dormir.

5- Ter uma boa noite de sono

Segundo os dados de 2020 da National Sleep Foundation, a quantidade necessária de horas de sono pode variar conforme a idade, como na tabela a seguir:

É importante lembrar que uma boa noite de sono não é somente sobre quantidade de horas dormidas, mas sobre a qualidade do sono. Para isso, é bom conhecer algumas práticas de higiene do sono (também recomendadas pela National Sleep Foundation), como:

• Marcar o mesmo horário de sono todos os dias, mesmo nos fins de semana.
• Praticar uma rotina relaxante antes de dormir para ser mais fácil adormecer rapidamente.
• Escolher um colchão que seja favorável e confortável e equipá-lo com travesseiros e roupas de cama de qualidade.
• Minimizar possíveis interrupções de luz e som enquanto otimiza a temperatura e o aroma do seu quarto.
• Desconectar-se de dispositivos eletrônicos, como telefones celulares e laptops, por meia hora ou mais antes de dormir.

Uma noite mal dormida pode desequilibrar a concentração, a capacidade de memória e o comportamento. A privação de sono desregula todo o sistema de reestruturação da rede neural, consequentemente prejudicando a capacidade de tomar decisões, resolver problemas e estudar.

Cientistas afirmam que a nossa maior experiência de produtividade acontece quando estamos dormindo, incluindo o processo de aprendizagem.

Esperamos que essas dicas possam auxiliar na elaboração de uma rotina saudável de estudos para as crianças. Quem sabe os adultos também animam, aproveitam as dicas e desfrutam de bons dias de estudo e novos aprendizados junto às crianças?!

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