Redação Guia do Futuro
Equipe apaixonada por educação, produzindo conteúdos voltados para pais que querem fazer a diferença na formação dos filhos!Publicado em . | Atualizado em 6 de outubro de 2021.
Como os responsáveis podem identificar e ajudar as crianças a lidar com esse problema?
A convivência na escola nem sempre é simples. Dificuldades de adaptação podem surgir em todas as idades, pois as dinâmicas naturais das relações de amizade são complexas. O problema é identificar o momento exato onde uma desarmonia passageira se torna uma perseguição recorrente.
O que fazer quando um comportamento violento se inicia? Como evitar que se repita? E se já é algo sistemático, qual é o caminho para mudar a situação? São essas questões que vamos abordar juntos agora.
Entendendo o que é bullying
O termo bullying não tem um correspondente em português. Em inglês refere-se à atitude de um valentão (bully). Objeto de estudo pela primeira vez na Noruega, o bullying é utilizado para descrever atos de violência física ou psicológica contra alguém em desvantagem de poder, sem motivação aparente, que causa dor e humilhação a quem sofre.
Os meninos, com uma frequência muito maior, estão mais envolvidos com o bullying, tanto como autores quanto como alvos. Já entre as meninas, embora com menor frequência, o bullying também ocorre e se caracteriza, principalmente, como prática de exclusão ou difamação.
É uma das formas de violência que mais cresce no mundo e pode acontecer em qualquer contexto social como escolas, universidades, famílias, entre vizinhos e em locais de trabalho.
O comportamento se manifesta de diversas maneiras no cotidiano: colocar apelidos, humilhar, ofender, discriminar, bater, empurrar, perseguir, aterrorizar, assediar, difamar ou quebrar pertences. Provavelmente existe uma palavra na língua portuguesa capaz de expressar tantas situações, mas o termo bullying já se tornou recorrente para identificar esses problemas nas conversas entre responsáveis e educadores.
Os principais efeitos nas crianças
Depressão, baixa autoestima, ansiedade e abandono dos estudos são algumas das características mais usuais apresentadas. As vítimas ficam isoladas, se tornam agressivas ou reclamam de alguma dor física justamente na hora de ir para escola.
De certa forma, o bullying é uma prática de exclusão social cujos principais alvos costumam ser pessoas mais retraídas e inseguras. As agressões podem ainda abordar aspectos físicos, culturais, étnicos e religiosos. Essas características acabam fazendo com que as vítimas tenham dificuldade de pedir ajuda.
As vítimas naturalmente se sentem intimidadas. Existe também o medo de não conseguir encontrar um adulto que possa ouvir sem julgamentos, realmente capaz de oferecer amparo e tomar as providências necessárias.
Como perceber que seu filho está sofrendo bullying?
Como responsável, você pode suspeitar que seu filho esteja sofrendo bullying, mas não ter certeza. Abaixo listamos os sinais mais comuns para ficar atento.
- Chega em casa com peças de roupas, livros ou outros pertences rasgados, danificados ou em falta;
- Tem cortes, contusões e arranhões inexplicáveis;
- Tem poucos amigos para passar o tempo junto;
- Parece ter medo de ir à escola ou participar de atividades organizadas com colegas;
- Adota um caminho longo e “ilógico” ao ir ou voltar da escola;
- Perde o interesse pelo trabalho escolar ou, de repente, começa a se sair mal na escola;
- Parece triste, mal-humorado, choroso ou deprimido quando chega em casa;
- Se queixa frequentemente de dores de cabeça, dores de estômago ou outros problemas físicos;
- Tem problemas para dormir ou tem pesadelos frequentes;
- Perda de apetite;
- Parece ansioso e sofre de baixa autoestima.
Enfrentando o problema juntos
Os pais devem estar alertas para enfrentar a questão, não importando se a criança é vítima ou agressor, pois ambos precisam de ajuda e apoio psicológico.
Os agressores são geralmente os líderes da turma, os mais populares, aqueles que gostam de colocar apelidos nos mais frágeis. No futuro, esta criança pode ter um comportamento de assediador moral no trabalho ou, pior, utilizar da violência de forma recorrente, adotando atitudes delinquentes e até criminosas.
O primeiro passo para enfrentar é mostrar-se sempre aberto a ouvir e a conversar com seus filhos. Fique atento às bruscas mudanças de comportamento. É importante que as crianças e os jovens se sintam confiantes, seguros de que podem trazer esse tipo de denúncia para o ambiente doméstico e que não serão pressionados, julgados ou criticados. Comente o que é o bullying e os oriente, deixando bem evidente que esse tipo de situação não é normal. Ensine como identificar os casos em que devem procurar sua ajuda e dos professores. Se você, como responsável, sentir que precisa de mais orientação para agir, entre imediatamente em contato com a direção da escola e procure profissionais especializados.
O fato do bullying poder ter consequências trágicas, como o suicídio entre os jovens, evidencia a necessidade de se discutir de forma mais séria o tema. Principalmente com o desenvolvimento das redes sociais, que levaram o problema para o mundo digital.
Cyberbullying – A violência digitalizada
Cyberbullying é o bullying realizado por meio das tecnologias digitais. Deriva da junção de duas palavras em inglês: cyber (de cibernético) e bullying (atitudes de valentões). Pode ocorrer nas mídias sociais, aplicativos de mensagens, plataformas de jogos e celulares. É o comportamento repetido, com intuito de assustar, enfurecer ou envergonhar aqueles que são vítimas.
Outro termo em língua inglesa que surgiu na internet é o “hater”. Utilizado para nomear as pessoas que disseminam o ódio no ambiente virtual, geralmente de forma anônima, atacando outras pessoas com ofensas e humilhações de forma sistemática.
O bullying presencial e o virtual acontecem lado a lado com frequência. Porém, o cyberbullying deixa um rastro digital, um registro que pode se tornar útil e fornecer indícios para ajudar a dar fim ao abuso.
Cyberbullying é crime?
O cyberbullying já é tipificado quando há crime contra a honra, racismo ou exposição de imagens de conteúdo íntimo. Entretanto, no caso de ser praticado por menores de 18 anos, o ato é caracterizado como infracional, punível com medidas socioeducativas previstas no Estatuto da Criança e do Adolescente.
Você pode se perguntar: o que meu filho está enfrentando (ou praticando) é bullying ou apenas brincadeira? Como saber? Um indício importante é a quantidade de pessoas envolvidas. Brincadeiras geralmente unem dois ou mais amigos que agem juntos de maneira divertida com todas as pessoas. Brincar assim não significa ferir os outros.
O bullying, por outro lado, geralmente envolve dois ou mais jovens que não são amigos. Muitas vezes há um desequilíbrio de poder, como no caso de vários se unindo para atacar uma única criança. Se o seu filho achar que as ações de outra pessoa não são engraçadas ou divertidas, é mais provável que possa ser bullying.
Quando o problema acontece online, pode resultar na atenção indesejada de uma grande variedade de pessoas, incluindo desconhecidos. Acabar com o cyberbullying não significa apenas denunciar os agressores, é também reconhecer que todos merecem respeito na vida real e digital.
Antes mesmo da pandemia, o Brasil ocupava o segundo lugar na lista de países com mais casos de cyberbullying: um em cada três jovens brasileiros afirma já ter sofrido algum tipo de assédio online.
Agora, por ficarem mais tempo conectados em função das aulas remotas e do tempo ocioso, os especialistas acreditam que o volume desse tipo de agressão tenha aumentado e recomendam que os pais dobrem a vigilância.
7 tipos mais comuns de cyberbullying
Os tipos são bem variados, mas selecionamos alguns que agridem diretamente crianças e representam os mais vistos entre esse público.
- Ameaças e perseguições: os agressores se valem de vários aplicativos (e-mail e WhatsApp) para envio de mensagens ameaçadoras e de ódio;
- Roubo de identidade: o agressor, ao conseguir os dados pessoais, entra nas contas da vítima e as utiliza sem consentimento;
- Criação de páginas falsas de perfil: o indivíduo faz uma página na internet sobre a vítima, colocando informações maldosas ou divulgando dados reais privados como o endereço e telefone;
- Comentários em perfis pessoais: os blogs e páginas de redes sociais podem se tornar uma espécie de diário online. Os agressores se aproveitam disso, publicando comentários lesivos ou criando um blog somente para humilhar a vítima;
- Envio de imagens: podem ser verdadeiras ou manipuladas que depressa se espalham por vários usuários pelo celular. Isso causa um enorme constrangimento à vítima;
- Links de votação: existem várias ferramentas na internet que permitem criar votações. O agressor pode criar uma enquete, por exemplo, para escolher “o mais impopular da escola” ou “o mais feio da turma”;
- Inscrições falsas: é perfeitamente possível que o agressor se inscreva usando os dados da vítima em sites de pornografia, racistas ou outros.
O que fazer quando o seu filho é vítima de bullying virtual?
Primeiro certifique-se que seu filho está acolhido, pois segurança deve sempre ser a prioridade. Entenda o que está acontecendo de maneira calma e tranquila. Por mais que o fato seja algo difícil de se lidar, aproveite o tempo para aprender exatamente o que aconteceu e o contexto como ocorreu. Não minimize a situação ou invente desculpas para as atitudes do agressor. Não importa o motivo, ninguém merece ser vítima de bullying.
Guarde as provas do ocorrido imprimindo ou fazendo capturas de tela. Gravações de conversas, mensagens, fotos e vídeos podem servir como prova que seu filho está sendo vítima de cyberbullying. Mantenha um registro de todo e qualquer incidente para ajudar no processo investigativo. Além disso, anote os detalhes relevantes como localização, frequência, gravidade do dano e testemunhos de terceiros.
Trabalhe em parceria com a escola porque, geralmente, o bullying manifestado no ambiente virtual começou em outro lugar. É comum a vítima e o agressor estudarem no mesmo local. Seu filho tem o direito de se sentir seguro onde estuda e os educadores são responsáveis por garantir um acompanhamento de forma apropriada.
Evite entrar em contato diretamente com os pais de quem praticou bullying. O tema é delicado e alguns responsáveis podem se tornar defensivos e, portanto, não serem muito receptivos. Tenha cautela em sua abordagem para evitar problemas adicionais e possíveis retaliações.
Entre em contato com a plataforma em que o bullying virtual ocorreu. As principais redes sociais já possuem ferramentas para denúncia e remoção de conteúdos que se enquadram nessa categoria. Por isso, independentemente de seu filho identificar ou não quem está assediando, você pode relatar a questão e tomar providências.
Se o bullying envolver questões sexuais, racismo ou deficiência, você pode entrar em contato com uma delegacia de crimes cibernéticos da sua cidade. Esta instituição irá conduzir toda a investigação e registrar o boletim de ocorrência.
A SaferNet Brasil oferece um serviço de recebimento de denúncias anônimas de crimes e violações contra os direitos humanos na internet, contando com procedimentos efetivos e transparentes para lidar com as questões apresentadas.
O que leva uma criança a praticar bullying?
A criança ou adolescente que comete bullying não é necessariamente maldosa. O comportamento agressivo pode ser um pedido de ajuda, um sinal de baixa autoestima, desejo de ser escutado e, principalmente, reflexo das atitudes da própria família. Se você descobriu ou chegou à conclusão que o seu filho age como um valentão, é importante refletir e saber como lidar.
Apesar de, na maioria dos casos, o bullying acontecer entre os muros da escola e ser informado à família pelos professores, há algumas atitudes que sinalizam o problema. Crianças e adolescentes que agem com pouca empatia, não se preocupam em agradar a ninguém ou desmerecem quem mostra sensibilidade com o sofrimento alheio. Podem apresentar também um modo de falar sarcástico, não obedecendo às figuras de autoridade e querendo impor suas vontades.
A violência com os outros pode surgir a partir de uma humilhação sofrida em casa. Afinal, uma maneira de se “vingar” desse mau trato seria passá-lo adiante. Porém, um irmão também pode ser uma vítima e alvo de agressões. É preciso prestar atenção se há rivalidade fraterna e uma possível linguagem agressora predominando na relação.
Em boa parte dos casos, a criança que pratica o bullying não tem em casa, na mesma proporção, o amor e o limite. Pais muito permissivos, por exemplo, podem achar que estão transmitindo carinho, mas na verdade a impressão que passam é que pouco se importam. Ao se darem conta de que o filho agride outros, o ideal é que revejam sua conduta como responsáveis. Há meninos que são incentivados pela própria família a serem “machos”, no sentido de depreciar as meninas e a serem o “valentão” da turma. É preciso entrar em sintonia com a carência afetiva do filho para entender as causas do comportamento na escola.
Descobri que meu filho faz bullying, e agora?
Evite justificar o comportamento da criança, culpar os colegas ou insinuar que os professores estão “de marcação”. Muitos pais se surpreendem porque não observam condutas agressivas do filho em casa, mas na escola pode ser diferente.
Embora alguns sinais sejam bem evidentes, não é raro que crianças apresentem comportamentos diferentes em diversos contextos de convivência. Às vezes, o bullying é praticado por questões internas do filho que vão muito além dos exemplos recebidos em casa. Nem sempre os pais podem ser responsáveis por tudo.
Muitos autores de bullying se justificam dizendo que estão apenas brincando e que os amigos não sabem brincar. No entanto, atitudes que ofendem, humilham ou intimidam os outros não são diversão, mas sim padrões de agressão. Para romper esse ciclo de violência, é fundamental seguir as orientações da escola.
Coloque-se sempre ao lado de seu filho, dizendo que deseja e vai ajudá-lo. Porém, mantenha a firmeza e explique a gravidade da situação. A criança tem de saber as consequências dos atos que vem praticando. Caso contrário, pode se tornar alguém que comete violências piores na idade adulta só por não suportar as diferenças.
Educar também é saber perdoar
No momento adequado, perdoe de verdade a atitude da criança. Isso não significa “passar a mão na cabeça” nem negar o que aconteceu, mas sim exercitar a compreensão e dar um voto de confiança. Onde não há perdão, não há amor nem a possibilidade de acontecer a construção de um novo comportamento a partir do aprendizado.
Em parceria com a escola, verifique se é preciso o apoio de um psicólogo para ajudar seu filho a lidar melhor com os próprios sentimentos. Em algumas circunstâncias, a prática do trabalho voluntário ajuda a exercitar a empatia e a compaixão, principalmente se a criança contar com a companhia dos responsáveis.
Os pais podem ser responsabilizados judicialmente pelas agressões que os filhos cometem, porém o mais adequado é, inicialmente, tentar resolver a situação com diálogo e orientação. As crianças, de ambos os lados da questão, precisam do cuidado dos adultos para superar o momento difícil.
A formação de pessoas conscientes e responsáveis começa na infância com carinho e educação. A adoção de condutas pacíficas, inclusivas e de convívio harmonioso passa pela participação direta de todos nós como educadores.
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