Como evitar o burnout infantil?

Educação Socioemocional

30 de setembro de 2021

Redação Guia do Futuro
Redação Guia do Futuro

Equipe apaixonada por educação, produzindo conteúdos voltados para pais que querem fazer a diferença na formação dos filhos!Publicado em . | Atualizado em 30 de setembro de 2021.


Pais e filhos podem aprender muito com o exemplo de Simone Biles nos jogos olímpicos de Tóquio.

Na Olimpíada de Tóquio, uma das maiores surpresas aconteceu fora das competições. A principal ginasta da atualidade e grande favorita, a norte-americana Simone Biles, desistiu de disputar várias medalhas alegando necessidade de preservar sua saúde mental.

A discussão sobre o limite do que é saudável, indo além do universo do esporte, ganhou força com a decisão tomada por Simone. Ampliando essa questão, a Síndrome de Burnout passará a ser reconhecida como doença pela OMS, a Organização Mundial da Saúde.

O quadro de burnout é caracterizado pelo estresse mental e esgotamento físico. No Brasil, muitos profissionais já pediram afastamento do trabalho por sintomas associados à síndrome.

Esse problema, no entanto, não é algo exclusivo da faixa etária adulta ou de profissionais com uma intensa rotina de trabalho. Os sintomas de esgotamento do burnout têm aparecido também entre os pequenos.

O peso de ser favorita

Ela é a ginasta mais premiada da história dos Estados Unidos e chegou a Tóquio como favorita em todos os aparelhos possíveis. Aos 24 anos de idade, Simone Biles é considerada uma atleta tão superior que a principal competição seria com ela própria.

A expectativa era que Biles, com quatro medalhas douradas conquistadas nos jogos do Rio de Janeiro, pudesse levar mais cinco ouros em Tóquio. Seria uma marca histórica, igualando o feito da soviética Larisa Latynina, que acumulou nove títulos olímpicos.

A realidade, no entanto, foi bem diferente do que os especialistas esperavam. A ginasta americana abandonou várias provas, chamando atenção para o esgotamento emocional, problema que vai muito além dos atletas de alta performance que vivem sob pressão.

“Não somos apenas atletas. Somos pessoas, afinal de contas, e às vezes é preciso dar um passo atrás”, disse Simone Biles ao deixar a arena da Olimpíada de Tóquio, depois de desistir da final por equipes da ginástica artística.

Apesar de nem todos terem a visibilidade de Biles ou viverem a pressão que atletas são submetidos na competição mais importante do mundo, o gesto da atleta pode servir como um momento de reflexão para todos nós.

Vale destacar que uma decisão dessas, de abandonar uma competição tão importante, ganha uma repercussão ainda maior quando uma personalidade do esporte mundial está envolvida. A coragem de Biles ao reconhecer e expor seus limites pode ser um sinal de autoconhecimento. Uma lição sobre a importância de saber dar um passo para trás pelo bem da saúde do corpo e da mente.

Mais exemplos do esporte

Outra estrela dos Jogos Olímpicos no Japão, Naomi Osaka, tenista número 2 do ranking mundial, se despediu do torneio precocemente ao ser derrotada pela tcheca Marketa Vondrousova, número 42 do ranking.
A tenista também já deixou claro que enfrenta problemas emocionais e que toda a pressão que vem enfrentando a deixa vulnerável. Na ocasião, nomes relevantes do esporte mundial como as também tenistas Venus e Serena Williams, o piloto Lewis Hamilton e a lenda do atletismo Usain Bolt manifestaram apoio à decisão de Osaka.

As diferentes formas de sofrimento mental são quase sempre associadas à desqualificação, fraqueza e vulnerabilidade. Exatamente o contrário do que se espera de um atleta olímpico. Por isso, também, exemplos como os de Osaka e Biles são fundamentais para acabar com os estigmas relacionados aos transtornos mentais.

Um alerta para todas as idades

Quando descobrimos que grandes atletas de elite podem sofrer depressão e burnout, mesmo contando com todo tipo de ajuda profissional, isso nos faz pensar como anda a saúde mental dentro da nossa família.

Certamente problemas assim não estão longe de nós. Segundo informações da OMS, o Brasil é considerado o país mais ansioso do mundo e o quinto mais depressivo. Mesmo com dados tão marcantes, muitas pessoas não procuram ajuda ou não encontram assistência médica adequada.

Desde 2014, a Associação Brasileira de Psiquiatria, em parceria com o Conselho Federal de Medicina, organiza nacionalmente a campanha de prevenção ao suicídio conhecida como Setembro Amarelo. Além de trazer esse tema à tona, o movimento disponibiliza informações e opções de tratamento para o público, visando a reduzir o tabu que faz com que muitas pessoas não busquem aconselhamento profissional.

O que é a Síndrome de Burnout?

A Síndrome de Burnout é um distúrbio psíquico marcado pela sensação de exaustão, tensão emocional e estresse crônico. Usualmente é gerado pela dedicação excessiva ao trabalho ou ao cuidado com os filhos, mas agora tem aparecido também entre os pequenos. O burnout na infância se relaciona, principalmente, a rotinas sobrecarregadas e cobranças exageradas.

É importante refletir quando as férias ficam mais curtas e os dias letivos mais longos. Será que estamos pressionando muito os nossos pequenos? Especialistas em desenvolvimento infantil alertam que um dia inteiro de atividades puramente acadêmicas, sem momentos de descontração, pode ser pedir demais aos jovens estudantes.

Sabemos que investir na educação é a melhor maneira de colaborar para o sucesso pessoal e profissional no futuro. No entanto, isso não precisa significar sobrecarregar as crianças de afazeres e obrigações excessivas. Na tentativa exagerada de ajudar seus filhos, os pais podem acabar gerando ansiedade e insegurança.

A síndrome de burnout em crianças é resultado, na maioria das vezes, de níveis elevados de estresse ou frustração durante um longo período de tempo. Sendo esse um alerta para reduzir o ritmo e rever as escolhas que fazemos. Para isso, é fundamental que pais e professores estejam atentos aos sinais que indicam o esgotamento mental na infância.

Sintomas de Burnout

Até chegar ao esgotamento, o corpo percorre um longo caminho e costuma enviar sinais para avisar que algo não vai bem e, assim, evitar um colapso. É preciso ficar atento para não subestimar o problema. Diferentemente de um cansaço normal, a exaustão motivada pela síndrome se manifesta por meio de alguns sintomas.

Alterações de humor, dificuldade de concentração, perda de memória, irritabilidade, agressividade, cansaço crônico, sensibilidade a ruídos sonoros, insônia e outros distúrbios do sono são alguns dos sintomas que podem aparecer.
Dores pelo corpo e de cabeça, que podem vir acompanhadas de náuseas e alterações na frequência cardíaca, também podem ser sinais. Assim como tremores e problemas gastrointestinais que geram falta ou até mesmo excesso de apetite.

Saindo dos sintomas corporais e entrando no espectro emocional, podemos destacar alterações como a falta de interesse em coisas que antes eram relevantes, pessimismo, apatia, baixa autoestima, desânimo e desejo de se isolar.

Pensando nesses sintomas e ritmo que o mundo caminha, é fácil perceber que não existem apenas adultos sofrendo assim. Seja pelo estresse que é a época de provas ou pelas milhares de atividades escolares e afins, a quantidade de exigências pode acabar afogando uma criança. Sem uma organização cuidadosa, gerar uma rotina mais saudável e equilibrada se torna um grande desafio.

A tecnologia também pode ser mais um fator, gerando alterações no sono. Afinal, as crianças podem fingir que vão para a cama descansar, mas acabam ficando horas grudadas no celular. Os problemas aparecem quando dormir muito tarde e acordar cedo torna-se um hábito.

5 sinais que podem indicar Burnout na infância

1. O pequeno costumava chegar em casa empolgado, fazer as tarefas e contar em detalhes sobre seu dia. Agora, é preciso lembrá-lo de suas responsabilidades e não se abre mais. É preciso insistir para que conte sobre o dia e mesmo assim ainda reclama.

2. Tristeza, cansaço e desmotivação passam a ser uma constante. Queixa-se regularmente e encontra desculpas para evitar o convívio social, mesmo em eventos que antes se empolgava para ir, como aniversários dos amigos da escola, por exemplo.

3. A segurança e confiança são substituídos por ansiedade e, por vezes, medo. Em dias de prova, chora ao estudar e tem dificuldades para dormir.

4. A postura de positividade e animação é substituída por impaciência, irritação, cansaço, incômodo constante, questionando e criticando tudo.

5. Antes costumava se dedicar aos estudos e obtinha bons resultados. Agora, tem dificuldade para se concentrar e o rendimento escolar tem caído.

Como lidar com o Burnout?

Se você identifica esses sinais no comportamento do seu pequeno, o primeiro passo é buscar ajuda profissional. Esses podem ser sintomas de burnout na infância, mas também podem indicar o início de um quadro de depressão infantil, por exemplo.

De qualquer maneira, o ideal para uma infância saudável é valorizar as pausas para descanso na rotina do seu filho, tempo livre, noites de sono de qualidade e uma alimentação equilibrada.

A pressão para ensinar habilidades essenciais de alfabetização e matemática tem cada vez mais limitado o tempo para brincadeiras e exploração livres. No entanto, os especialistas da primeira infância concordam que o brincar é essencial para o desenvolvimento saudável e o aprendizado básico profundo no nível do jardim de infância. De fato, quando as crianças perdem esse tempo fundamental de brincar, tudo pode ser afetado negativamente.

A Síndrome de Burnout não é inevitável

Podemos impedir e reverter a exaustão alterando a maneira de gerenciar o tempo dos nossos filhos. Isso significa cuidar da sua saúde mental e física de forma efetiva.

É muito recomendado o acompanhamento psicológico tanto para evitar como também para tratar, pois um profissional pode ajudar a desenvolver ferramentas emocionais para sair de eventuais crises. A psicoterapia a longo prazo consegue desenvolver o processo de conhecimento e reconhecimento das emoções, gerando a autorregulação.

Outros modos também muito efetivos na prevenção e na melhora do quadro de burnout são atitudes simples, mas nem sempre fáceis de manter. Tentar fazer uma alimentação balanceada, praticar exercícios físicos de forma regular e ter boas noites de sono são fatores que certamente evoluem a nossa qualidade de vida.

Dicas e recomendações

  • Respeitar e conhecer seus limites e dos seus filhos;
  • Manter uma rotina de estudos equilibrada e organizada, pois isso dará tranquilidade para manter um ritmo saudável;
  • Respeitar o período de sono;
  • Boa alimentação;
  • Exercícios físicos e atividades como meditação e relaxamento;
  • Utilizar, se houver, o suporte pedagógico e emocional oferecido pela instituição de ensino;
  • Não hesite em procurar ajuda profissional. A saúde emocional e mental é tão importante quanto a física.

A importância do ócio na infância

O sociólogo Domenico de Masi, sem dúvida, é o maior embaixador do “dolce far niente” e da teoria que prega a importância do tempo livre e da criatividade em contraposição à cultura da idolatria do trabalho, da competitividade e da atribulação.

O italiano também defende que deveríamos “privilegiar a satisfação de necessidades radicais, como a introspecção, o convívio, a amizade, o amor e as atividades lúdicas” como explica em sua obra mais conhecida, que tem o título de “O Ócio Criativo”.

Muitas vezes não notamos, mas é comum que a agenda dos filhos esteja tão lotada de compromissos quanto à dos pais. Claramente, as crianças de hoje têm muito menos tempo em relação às gerações passadas, que podiam chegar da escola e tinham horas livres para brincar, dormir ou fazer o que desejassem.

De acordo com Mary Helen Immordino-Yang, neurocientista e pesquisadora do Instituto do Cérebro e da Criatividade da Universidade do Sul da Califórnia, nos Estados Unidos, em um artigo publicado pela BBC, “Esse tempo de ócio te ajuda a reconhecer a importância mais profunda das situações. Ajuda a entender o significado das coisas”.

Por isso, é tão importante as crianças também terem esses momentos de reflexão e inatividade física, para que a parte do cérebro que é ativada quando não fazemos nada – conhecida como rede neuronal em modo padrão – possa agir e consolidar a memória e a visão do futuro. É essa também a zona do cérebro que ativamos quando observamos outros indivíduos, pensamos sobre nós mesmos, fazemos julgamento moral ou processamos as emoções de outras pessoas. Ou seja, todas competências essenciais para a vida.

Quando pensamos na necessidade do ócio para as crianças, surge uma pergunta: como diferenciar o “fazer nada” produtivo da prostração improdutiva? O mais importante é perceber se há excesso de um lado ou de outro.
Ficar muito tempo, vários dias prostrado ou desanimado, não indica um “fazer nada” criativo. Na verdade, uma situação assim requer preocupação e deve soar como alerta para os pais. Por outro lado, o sinal de que está tudo certo é o equilíbrio, uma medida que cada criança apresenta de forma única e individual. E nós precisamos estar bem atentos para perceber.

Brincar é saúde física, mental e emocional

Para uma criança, brincar é o trabalho mais importante. É tudo o que ela necessita para ser inteligente, aprender a lidar com as frustrações, vivenciar os papéis da vida adulta, aliviar suas tensões e solucionar aquilo que não pode ser resolvido na vida real. A criança que não brinca adoece.

Nos últimos anos, a brincadeira da criançada passou a ser cada vez mais limitada a ambientes internos. Muitas casas não possuem um jardim e crianças precisam se contentar com seus brinquedos dentro de um apartamento. Embora tudo isso traga segurança e menos preocupação para os pais, existem evidências que este jeito moderno de criar os pequenos pode ser prejudicial para sua saúde mental.

Segundo Piaget, grande psicólogo que estudou o desenvolvimento infantil, o primeiro estágio de aprendizagem das crianças é o sensório-motor, ou seja, nos seus primeiros dois anos de vida aprendem, principalmente, através das sensações e do movimento. É assim que elas começam a conhecer o mundo.

Diversos estudos mostram que algumas lições fundamentais para as crianças são incorporadas com mais qualidade em brincadeiras feitas ao ar livre. É o caso da capacidade de exploração e de calcular riscos, que envolvem o desenvolvimento da coordenação motora.

Isso não quer dizer, claro, que é necessário estar sempre com as crianças no meio da natureza, mas sim que a quantidade superior de estímulos dos espaços ao ar livre trazem melhores resultados para o desenvolvimento.

Levar o bebê para parques, praças e outros locais públicos, assim que liberado pelo pediatra, pode ser benéfico para que tenha um bom primeiro contato com o mundo exterior. No caso de bebês mais velhos, deixar que engatinhem na grama, ao invés de ficar apenas observando do carrinho, é um ótimo exercício de aprendizagem.

Cair também é aprender a levantar

Uma das principais funções do cérebro é o movimento. De fato, grande parte da área frontal deste órgão é dedicada à motricidade. Além disso, outros subsistemas existentes no cérebro foram desenvolvidos, através da evolução, para auxiliar nessa tarefa.

Um deles é o sistema límbico, responsável pelas emoções. Naturalmente, nos sentimos atraídos por coisas que despertam boas emoções e queremos estar perto delas. Da mesma forma, aquilo que traz tristeza, raiva ou medo nos desperta uma vontade de fugir. Resumindo: embora não seja tão claro em um primeiro momento, os sentimentos estão surpreendentemente relacionados à movimentação.

Durante as primeiras etapas do desenvolvimento dos nossos filhos, a movimentação, sensação, cognição e emoção estão profundamente ligadas e envolvidas no processo de aprendizagem. E quando os especialistas dizem que o trabalho das crianças é brincar, estão certos: é durante a brincadeira que o ser humano aprende e desenvolve.

Essa aprendizagem, no entanto, não ocorre de maneira completamente segura, como muitos responsáveis gostariam. A criança precisa cair e se machucar para aprender a levantar e se equilibrar. Pais que evitam esse tipo de situação a todo custo, por mais que desejem fazer apenas o bem, estão limitando suas descobertas.

Embora não pareça, o amadurecimento emocional está profundamente ligado a esses pequenos acontecimentos desagradáveis. Caso o pequeno nunca passe por esse tipo de situação, é possível que venha a desenvolver uma incapacidade para lidar com frustrações, uma vez que foi impossibilitado de se frustrar no passado.

Nosso cérebro é cheio de surpresas

Por mais contraditório que seja, enfrentar alguns perigos é necessário para uma boa saúde mental. O ser humano evoluiu de um ambiente cheio de riscos para um ambiente seguro e confortável há poucos séculos, e o cérebro ainda não foi capaz de acompanhar essa evolução ambiental.

Sendo assim, pode-se dizer que nossos cérebros possuem uma “sede de perigo”, motivo pelo qual filmes de terror e o frio na barriga das montanhas russas são tão atrativos. Com as crianças, isso não é diferente. Brincar em casa pode ser divertido, mas correr num bosque com o risco de tropeçar e cair é bem mais agradável para o nosso cérebro que foi desenvolvido para esse tipo de situação.

Privar as crianças de estímulos potencialmente perigosos é privá-las de prazeres que seus cérebros estão pedindo para vivenciar. É através dessas brincadeiras que a criança irá desenvolver a destreza para não se machucar mais ao correr, além de aprender a avaliar as situações adequadamente.

São essas experiências que também trarão, no futuro, a capacidade de ser resiliente. Educar crianças não é nada fácil, mas é possível ajudar nossos filhos a desenvolver ferramentas para enfrentar as demandas do mundo de uma forma saudável. O resultado de tanto esforço, assim esperamos, será a redução da chance de desenvolver sintomas de depressão e burnout na idade adulta.

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