
Redação Guia do Futuro
Equipe apaixonada por educação, produzindo conteúdos voltados para pais que querem fazer a diferença na formação dos filhos!Publicado em . | Atualizado em 29 de novembro de 2021.
Conheça os principais hábitos para combater o consumismo infantil e que contribuem para um consumo consciente.
Com Black Friday e festas de fim ano se aproximando, a expectativa por adquirir algo novo aumenta, sendo um gatilho para compradores compulsivos. Em uma sociedade onde o ter é mais importante do que o ser, nota-se um consumo descontrolado em tudo: dinheiro, imagem, roupas, perfumes, adornos, grifes, amor, sexo e substâncias lícitas e ilícitas.
Crianças e adolescentes são os mais vulneráveis por estarem cada vez mais expostos, sendo a comunicação mercadológica uma grande influência no processo de construção da sua identidade. O problema é que os mais jovens ainda não possuem o aparato psíquico desenvolvido o suficiente para lidar com essa avalanche de estímulos, entrando num ciclo insaciável de necessidade urgente e satisfação momentânea .
Especialistas alertam sobre as consequências relacionadas ao consumismo na saúde mental e física do público infanto-juvenil. Dentre elas estão:
- o estresse familiar,
- obesidade infantil;
- erotização precoce;
- reações agressivas;
- transtornos de comportamento;
- consumo precoce de tabaco e álcool.
Portanto, não podemos deixar de tratar o assunto com cautela e para isso convidamos você a seguir conosco na leitura.
O poder de influência
Os dados do estudo “Crianças brasileiras”, realizado pelo Instituto Locomotiva em parceria com a Dotz, retratam a influência dos pequenos nos hábitos de consumo dos pais. A pesquisa aponta que 88% dos responsáveis são influenciados pelos filhos quando estão fazendo compras no shopping ou no supermercado. O levantamento também mostra que 70% dão mais importância para as marcas dos produtos usados pelos seus filhos do que para eles próprios.
Considerando o peso que exercem sobre o orçamento familiar, as crianças estão no centro das estratégias de marketing das grandes marcas do varejo, não apenas porque escolhem o que seus pais compram, mas porque tendem a ser mais fiéis a marcas quando impactadas desde muito jovens. Basta uma ida ao shopping para perceber o aumento substancial de ofertas de produtos e entretenimento direcionadas ao público infantil.
Além do bombardeio publicitário na mente dos pequenos, às vezes o problema é ampliado dentro de casa. A correria do trabalho faz com que a maioria dos pais tenha menos tempo de qualidade com a família e assim, ao tentar compensar a ausência com presentes fora de época, prejudica a compreensão do seu filho que passa a dar mais valor aos objetos e não às relações familiares.
Os adolescentes são os que mais gastam tempo diante das redes sociais e, por terem o estilo de vida das suas celebridades favoritas como inspiração, tornam-se alvo fácil para o mercado de influência. Em estudos recentes sobre o comportamento de consumo por gerações, os principais fatores que levam os jovens a consumir uma determinada marca são: definição da sua identidade, afirmação social e carência emocional. Quando não conseguem preencher os requisitos para serem aceitos no grupo, muitos sofrem bullying e acabam isolados pelos colegas.
Cabe aos pais se anteciparem a estes fatos, manter o diálogo e ajudar seu filho a lidar com os conflitos de uma forma mais leve. Crianças que recebem atenção adequada se sentem mais seguras e enfrentam momentos de crise com mais facilidade.
Como evitar que seu filho seja consumista
A questão é que os efeitos a médio e longo prazos são muito prejudiciais. Então, o desafio passa a ser encarar o problema e buscar reverter o padrão consumista incentivado pela nossa sociedade. Confira abaixo alguns hábitos que podem contribuir para a construção de um consumo mais consciente.
A força do exemplo
Ser um bom exemplo é fundamental para estimular seu filho a ser um consumidor consciente. Por isso, se você tiver hábitos de compra ruins, com certeza ele seguirá o mesmo caminho.
Ao negar um pedido de compra por falta de dinheiro, é importante deixar claro que há uma reflexão para a escolha, sendo uma chance de expor o que é prioridade e o que é desnecessário para aquele momento. Portanto, existe diferença entre dizer apenas “não vou comprar, não tenho dinheiro” e “não tenho dinheiro para isto, meu dinheiro é para outra coisa”.
É preciso uma mudança total de comportamento de toda a família e para incentivar, separamos três sugestões práticas:
- reforce o quanto você pensa antes de fazer uma compra;
- evite ficar acumulando muitas coisas;
- demonstre como boa parte da renda vai para itens essenciais.
Junto a isso, a educação financeira familiar é uma forte aliada para criar o exemplo a ser seguido, ajudando no processo de organização do orçamento e promovendo uma relação saudável com as finanças.
Educação financeira
Ainda que seja essencial aproveitar intensamente a infância, ensinar sobre o valor das coisas e como conseguí-las com responsabilidade é fundamental para que não se tornem adultos endividados e compradores compulsivos.
Conversar sobre finanças, com o tom adequado para a idade, é inevitável numa sociedade cada vez mais consumista. Não adianta dar mesada e não orientar sobre como fazer o uso ponderado do dinheiro.
Um dos principais ensinamentos da educação financeira é que, para comprar o que se deseja, será preciso abrir mão de algo. Tal atitude auxilia no desenvolvimento do senso crítico e reforça a noção de prioridade para a criança.
Em linhas gerais, educação financeira serve para:
- compreender o que é valor e de onde vem o dinheiro;
- ter percepção do que é caro ou barato;
- aprender a poupar;
- aprender a fazer melhores escolhas;
- entender a importância de cuidar do que temos;
- como evitar desperdícios.
Se quiser mais informações, leia nosso artigo e saiba como dar os primeiros passos na educação financeira do seu filho.
Estabelecendo limites
Para os pais que passam muito tempo ausentes trabalhando, negar um pedido do filho não é uma tarefa simples. Saber dizer “não” e deixar o pequeno experimentar a frustração, contribui para o seu desenvolvimento psicológico e consequentemente se tornará um adulto mais pronto para enfrentar a vida.
A recomendação é que seja transparente com seu filho a respeito das compras. Por exemplo: quando passar em frente a uma loja e ele fizer um pedido o qual não poderá atender, não diga “na volta a gente compra”. Apresente a verdade dizendo algo como “não vou comprar”, “você não precisa”, “não tenho dinheiro” ou “você já tem isso”. O importante é deixar claro o real motivo.
Uma criança que não entende os limites da realidade, inclusive do dinheiro, será um adulto incapaz de compreender que ninguém tem tudo o que deseja. Logo, será alguém com dificuldades em manter relacionamentos, incapaz de lidar com suas inseguranças e com seus fracassos em projetos profissionais e pessoais.
O combinado não sai caro
Para ajudar a fugir dos apelos e reduzir os pedidos por impulso, vale conversar sobre qual é o objetivo do passeio e combinar com seu filho como será realizado, mas faça isso sempre antes de sair de casa. Conversar previamente pode evitar desgastes e as famosas birras.
Por exemplo: um acordo de que a ida ao shopping é apenas para comprar o presente do amiguinho ou combinar quantos e quais itens o pequeno poderá incluir na lista do mercado.
Se houver insistência, dizer “não” faz parte do processo educativo e pode ensinar a criança a lidar com frustrações futuras.
Definir o tempo de tela também é importante, pois a medida em que elas acessam a internet, ficam expostas a conteúdos apelativos que estimulam o desejo por consumir algo. Em nosso texto “Uso de telas na infância: o que você precisa saber”, conheça as principais recomendações da Sociedade Brasileira de Pediatria.
Consumo consciente
importante para demonstrar que o valor da vida não está no que tem preço, mas nas relações e nos pequenos prazeres cotidianos.
Uma maneira de construir o consumo consciente é abordar sobre o seu impacto no meio ambiente. Quando a criança se conecta à natureza, é gerado um vínculo importante de afeto que resultará no respeito e cuidado. Permita ao seu filho explorar o potencial lúdico da natureza, passear em bosques e procurar pequenos tesouros como pinhas, pedras e conchas de caramujos vazias. Elementos naturais podem render brinquedos criativos, presentes feitos pelas próprias mãos ou pequenas coleções.
Diversão pode custar pouco
Uma maneira de desconstruir a cultura do ter é utilizar o tempo livre para desenvolver atividades que envolvam a família ou os amigos. Aproveite o momento para mostrar que é possível se divertir através de experiências simples.
Opções não faltam e algumas sugestões são:
- roda de violão com as canções favoritas;
- jogos de tabuleiro;
- piquenique;
- acampamento em casa;
- montar uma sessão de cinema em casa;
- festa do pijama e tantas outras.
Grandes agências de publicidade aproveitam datas comemorativas para associar demonstração de carinho a um bem de consumo. Portanto, é importante romper esse entendimento e estabelecer conexões de afetividade por meio de experiências que fortalecem os vínculos e incentivam relacionamentos.
Faça você mesmo
O que não falta são tutoriais na internet ensinando a fazer algo. Incentive a confecção de um presente, seja para uso próprio ou para alguém, aproveitando esse momento para desenvolver habilidades manuais e soltar a imaginação. O prazer de ver algo feito com as próprias mãos não tem preço!
É uma atividade que pode ser aproveitada para trazer questões a respeito da geração de resíduos e sobre os conceitos de reduzir, reutilizar e reciclar. Exercite o lado lúdico da criança buscando dar um novo uso para objetos que iriam para o lixo como caixas, rolhas, vidros de conserva e retalhos. Ou a partir de materiais naturais coletados durante uma caminhada ao ar livre como gravetos, folhas, sementes, conchas ou pedras que chamem a atenção do pequeno.
Desapego através da troca de brinquedos
Visitar uma feira de trocas de brinquedos é uma ótima saída para evitar o consumo desenfreado, além de incentivar o desapego ao trocar um objeto que não usa mais por outro, sem gastar e sem impactar o meio ambiente.
As feiras de trocas no Brasil cresceram a partir de uma iniciativa do Instituto Alana e fazem parte do programa “Criança e Consumo”. A proposta é estimular a socialização e desconstruir conceitos consumistas.
O estímulo à troca de brinquedos contribui para que a criança:
- desenvolva a visão de um mundo colaborativo;
- pratique a argumentação quando precisa convencer o colega a fazer a troca;
- aprenda a lidar com a frustração quando não consegue o item de desejo;
- exercite a compaixão e empatia.
É uma experiência rica e uma maneira lúdica de refletir sobre os conceitos básicos de reutilizar e reciclar. Se quiser saber as datas ou até mesmo como organizar a sua feira, o programa disponibiliza em seu site informações e materiais de apoio.
Doação
A percepção de valores como empatia, solidariedade, amizade e gratidão pode ser construída desde a infância através do hábito de doar para aqueles que mais precisam.
Para começar, lembre-se de que o pequeno assimila novos aprendizados pela imitação. Portanto, o ideal é que os pais realizem a ação de doar para que seu filho compreenda a importância de repassar algo que poderá ter um uso melhor em outra família.
Como a prática de doação envolvendo toda a família tem aumentado, algumas entidades de caridade passaram a criar eventos com a finalidade de gerar um vínculo emocional entre o doador e quem receberá, geralmente em datas comemorativas como Dia das Crianças e próximo ao Natal. Essa aproximação gera a humanização de ambos os lados e, no caso dos pequenos, pode ser uma oportunidade para apresentar outra criança com uma realidade diferente da dela.
Como exemplo, temos no país o Dia de Doar Kids, movimento que tem como proposta promover a gentileza e a generosidade junto ao público mais jovem. Conheça a plataforma do projeto contendo dicas e inspirações para ensinar os pequenos sobre doação o ano inteiro.
Cultive valores humanos
Desconstruir o consumismo, ainda que a família tenha condição financeira favorável, é primordial para ressignificar nossa relação com o tempo e o prazer. Não se trata de negar um presente ou privar de certos benefícios, mas de educar a ter respeito ao meio ambiente e a cultivar a solidariedade.
É através da construção de um relacionamento baseado na confiabilidade e amor, que pais ensinam aos filhos valores humanos como autocontrole, respeito ao próximo, empatia e honestidade .
Educar uma criança a consumir com consciência é tão importante quanto ensiná-la a escovar os dentes ou a dizer “por favor”. Crianças que aprendem os limites do dinheiro se tornam adultos mais seguros e felizes, pois sabem que é mais importante ser do que ter.
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