Saúde mental na adolescência: o que você precisa saber sobre o tema

Educação Socioemocional

7 de janeiro de 2021

Anna Fernandes
Anna Fernandes

Professora de Biologia, formada pela Universidade Federal Fluminense, mestre e doutora em microbiologia e parasitologia. Apaixonada pela sala de aula, pelo combate às doenças negligenciadas, gatos e modalidades circenses.Publicado em . | Atualizado em 7 de janeiro de 2021.


A Organização Mundial de Saúde (OMS) define adolescência como sendo o período da vida que começa aos 10 anos e termina aos 19 anos completos. De acordo com a OMS, a adolescência é dividida em pré-adolescência – dos 10 aos 14 anos – e adolescência – dos 15 aos 19 anos completos. A adolescência é marcada por muitas alterações comportamentais, tomadas de decisões e formação do senso crítico.
                Os hormônios sexuais estrogênio, progesterona e testosterona costumam ter “booms” de crescimento durante essa época, determinando o período reprodutivo/desenvolvimento sexual e a chegada da maioridade. Além disso, parte do sistema nervoso central termina de se diferenciar e formar definitivamente, influenciando no desenvolvimento da personalidade e  nos padrões comportamentais do adolescente.
                Dentro desse contexto, a saúde mental é uma questão que precisa ser trabalhada em todas as idades do indivíduo, pois cada faixa etária traz consigo questões socioambientais e problemáticas novas a serem desconstruídas e trabalhadas. Entretanto, definitivamente, o investimento na saúde mental durante a adolescência é fundamental para a formação de um adulto saudável.
                No Brasil, 5% dos jovens possuem distúrbios alimentares, 77% possuem transtornos como ansiedade e depressão e 10% desenvolvem síndrome do pânico. Além disso, o bullying se inicia fortemente durante esse período, assim como a necessidade de aprovação e de aceitação dentro de um grupo. As mídias sociais são de grande influência durante essa fase de desenvolvimento, e os estereótipos e padrões de beleza são ainda mais reforçados. Normalmente, a fase da adolescência envolve impulsão e construção do pensamento crítico, por isso o adolescente se sente constantemente cobrado e com a necessidade de aprovação de seus familiares e amigos.

As mídias sociais podem ser aliadas importantes no desenvolvimento da criança e do adolescente, devido ao acesso à informação e ao aumento da comunicação. Contudo, quando usadas de maneira equivocada, as redes sociais podem perpetuar para políticas de “cancelamento” ou cyberbullying. Alguns transtornos psicológicos e alimentares são comuns nessa fase da vida e podem ter associação com a necessidade de aprovação, reforçando estereótipos e padrões de beleza ditados pela mídia. Os transtornos alimentares mais comuns são bulimia e anorexia, sendo o primeiro associado ao ato de comer o alimento e provocar o vômito e o segundo, ao jejum intermitente.

O transtorno de ansiedade generalizada pode surgir durante essa fase da vida, sendo caracterizado pela ansiedade excessiva e preocupação exagerada com os eventos da vida cotidiana. Essas preocupações, além de estarem associadas às modificações hormonais e cobranças pessoais, podem estar associadas à espera de um “desastre” ou acontecimento ruim. No entanto, o bullying corresponde à prática de atos de violência física ou psicológica, sempre de maneira intencional e repetida. Na adolescência, esse comportamento é frequente devido à grande necessidade de aceitação e de pertencimento a um grupo social, fazendo com que muitos adolescentes pratiquem o bullying para serem incluídos.

Por que isso ocorre? Os adolescentes estão passando pela maturação do seu córtex cerebral, o volume da substância cinzenta atinge seu máximo ao final da adolescência e desencadeia em oscilações de humor, reatividade emocional, impulsividade e sensibilidade. Já na região subcortical, o sistema límbico, que é o conjunto de estruturas localizadas no cérebro de mamíferos, localizado abaixo do córtex e responsável por todas as respostas emocionais, também sofre maturação na adolescência. Portanto, o que pode ser estereotipado no adolescente como uma “rebeldia sem causa” é, na verdade, a adaptação a diferentes taxas hormonais e mudanças anatômicas/fisiológicas sofridas.

Para que a saúde mental do adolescente seja preservada, é necessário que haja incentivo constante de visitas a psicólogos e discussões saudáveis em casa sobre pontos de vistas e tomadas de decisão. A implementação de um serviço gratuito de atendimento psicológico nas escolas e instituições, assim como de debates e palestras com profissionais sobre distúrbios comportamentais e alimentares, se faz necessária. Grande parte dos jovens são inadequadamente diagnosticados e, por vezes, possuem dificuldade de conversar sobre os motivos de seus estresses, independentemente de serem escolares ou sociais.

A participação dos pais e responsáveis é crucial na melhoria das condições psicológicas do seu filho adolescente. A busca por profissionais de saúde que avaliem o rendimento escolar e social baseado nas perspectivas do adolescente são muito importantes para a identificação precoce de síndromes e transtornos. Além da busca por psicólogos, é necessária a participação ativa dos professores das áreas das ciências na exposição do assunto em sala de aula, abrindo portas para debates e discussões saudáveis sobre sentimentos, comportamentos e opiniões. Os responsáveis são de extrema importância no processo de aprendizado da criança e do adolescente, sendo a família o primeiro grande núcleo social no qual o indivíduo participa. Por isso, a observação dos comportamentos e da mudança de humor do adolescente em casa podem ser alertas para a necessidade de melhoria da saúde mental do indivíduo.

Além do acompanhamento psicológico com um profissional da área, esses assuntos podem ser apresentados em workshops e palestras nas escolas, assim como durante a conversa dentro de casa.

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